quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Abençoadas Mãos

Mãos de pureza de lírio na sua formosa brancura.

Mãos de frescor de orvalho envolto na pele suave.

Mãos unidas em prece na sua frágil bravura.

Mãos de gestos que lembram o doce vôo da ave.

Mãos que embalaram na vida, mãos consolando na morte,

São as mãos de minha mãe estendidas para mim

Mãos macias, delicadas, mãos sem marca de sorte.

Ao vê-las, eu imagino que os anjos têm mãos assim.

A inspiração divina fez com que Deus as criasse

A perfeição de Sua obra ao Artista emocionou

Não permitindo jamais que o tempo as violasse,

A juventude eterna nessas mãos abençoou.

Andarilho

Levo a vida sem parada

Sem destino, sem pousada,

Eu nem sei onde chegar.

Chuto pedras, piso espinhos

Não escolho os caminhos,

Pois não tenho onde ficar.

Tenho a pele impregnada

Da poeira da estrada

Onde deito prá dormir.

Vejo o céu iluminado,

De estrelas enfeitado,

Como um manto a me cobrir.

Quando acordo bem cedinho

Sinto no rosto o carinho

Do beijo frio do orvalho.

Sou viajante vagabundo

De passagem neste mundo

Rindo e chorando também.

Quero viver sempre assim

Trazendo dentro de mim

A paz de não ser ninguém.

Anjo Iluminado

És minha mãe, foste tu que me geraste;

Dentro de ti minha vida começou.

Do teu sangue e tua carne me formaste,

Junto do teu, meu coração pulsou.

O teu ventre sagrado foi meu ninho,

Na paz do teu silêncio a escutar,

Ternas cantigas, murmuradas bem baixinho:

Era o teu amor de mãe a me embalar.

Deste-me à luz, desprezando a tua dor;

Saí do abrigo para o mundo enfrentar...

À minha espera teu sorriso, teu amor

E a luz divina desse teu materno olhar.

Da minha infância foste o anjo iluminado,

Atrás de ti como sombra eu seguia;

Pra dormir queria o anjo ao meu lado,

Ao acordar era meu anjo quem eu via..

Na lembrança eu guardo tua imagem,

Quando nos golpes desferidos pela vida

Tua força, exemplo vivo de coragem

Tua fé em Deus, tua cabeça erguida.

Hoje a velhice te faz quase criança

Vives num mundo que é apenas teu

Num casulo onde a dor não mais te alcança

E que foi a própria vida que teceu.

Serás sempre meu anjo, mãe querida!

Onde estiveres, também eu hei de estar.

Se no espelho me vejo refletida

É a tua imagem que busco encontrar.

Se adormeces, eu te afago com carinho,

Se em teu sono puderes escutar,

Ternas cantigas murmuradas bem baixinho,

É o meu amor de filha a te embalar.

Solidão

Solidão, quando surgiste em minha vida,

Em meio à ânsia de um viver feliz

Eu não sentia que estava tão sozinha

A ti eu não chamei, a ti jamais eu quis.

Sem perceber que otempo ia passando,

Eu esbanjava na vida amor e emoção.

Até não haver ninguém me esperando,

Eu nem sabia o que era a solidão.

Mas chegaste de mansinho, quietamente,

Com teu jeito calado e meigo e doce

E eu queria dizer a toda gente

Que teu silêncio só a paz me trouxe.

Não me censuras, nem perguntas nada

Minha alma gêmea, és um outro eu.

Se triste choro, também ficas magoada,

Teu sofrimento é quase igual ao meu.

Se aconchegada nesse teu regaço,

Eu desabafo porque estamos sós,

Sou envolvida em meu próprio abraço

E ouço o som da minha própria voz.

Mas sei que existes e que estás comigo

Nada me atinge e nem me faz sofrer.

Jamais me deixes, tu és o meu abrigo

E eu ficarei contigo até morrer.

Fica comigo até a hora da partida

Depois encontrarás alguém cuja ferida,

A vida fez sangrar e não curou.

Ou então, quem sabe, sentirás também

Que somos uma só na realidade:

- a solidão impregnada de saudade -